Fotos: Rosa Gracioli (arquivo pessoal)
Rosa Gracioli é uma das poucas pessoas centenárias que chega a essa idade com muita disposição e alegria. Nascida em 24 de abril de 1919, no distrito de São Marcos, ela sempre morou em Santa Maria. Casada por duas vezes e viúva há 33 anos, Rosa formou uma família de quatro filhos de sangue, um do coração, 10 netos e 17 bisnetos, que hoje são a sua maior alegria. Nesta entrevista, ela conta que chega aos 100 anos com saúde e garante que tem um pequeno segredo de longevidade. Além disso, planeja viver bem muitos outros anos. Conheça mais desta história.
Diário - A senhora cresceu em São Marcos?
Rosa Gracioli - Sim, e tenho grandes lembranças da minha infância. Meus irmãos e eu íamos para o colégio descalços, mesmo em dias de geada. Às vezes, na festa do Dia de São Marcos, que também é o nome da igreja local, ganhávamos um par de calçado. As famílias da região não perdiam a festa, principalmente as que frequentavam a paróquia. Meus amigos de lá já não existem. Em minha casa, éramos sete homens e três mulheres. Infelizmente, todos falecidos. Meu pai, Carlos Gracioli, veio da Itália aos sete anos. Ele nos contava as dificuldades que viveu no país dele. A pobreza era tão grande que um ovo frito era dividido para três pessoas comerem. Minha mãe, Carolina Gracioli, nasceu no Brasil. Aprendi muito com eles. Na escola, fui boa aluna. Estudei até o quinto ano porque, na época, onde eu morava, era a série máxima que a escola oferecia. Todo fim de ano, os professores mandavam uma carta para a minha mãe pedindo para eu cantar o Hino Nacional. Também já cantei na igreja, em São Marcos.
Rosa (a primeira sentada, da esq. para a dir.) com os os pais, Carlos e Carolina Gracioli, e os irmãos
Diário - Quando saiu de São Marcos e se mudou para Santa Maria?
Vó Rosa - Meus pais se mudaram para o Bairro Patronato, em Santa Maria, quando eu tinha 15 anos. Na minha vida, para não dizer que nunca trabalhei fora, ajudei um ano e três meses em um colégio in terno no Patronato. Fazia comi da, lavava roupa e arrumava as coisas para 80 internos. Fiquei doente e uma beata assumiu o meu lugar. Aos 18 anos, casei e fiquei sempre como dona de casa. Criei quatro filhos, Admar, Ledi, João Carlos e Paulo Danilo. Tive, também, um filho de criação, o Carlos Gilberto da Silva, falecido.
Diário - E como é chegar aos 100 anos com saúde?
Vó Rosa - Muito bom. Levou 100 anos para a ambulância ter de vir aqui em casa. E foi por causa de uma gripe. Nunca fui operada. Estive no hospital uma vez, há muito tempo, devido a uma colite. Nas últimas semanas, peguei uma gripe brava, no início do frio, mas agora estou bem. Tenho uma saúde forte. Hoje me ocupo com a casa, faço algumas tarefas domésticas e jogo carta com as vizinhas. Gosto de ajudar quem precisa, oferecendo o que sei fazer. Nesta trajetória, aprendi a trabalhar por conta. Fiz pão, assei carne, lavei roupa e costurei para fora.
Diário - O Coração do Rio Grande mudou bastante. Do que sente saudades em relação à Santa Maria antiga?
Vó Rosa - Tenho saudade do trem. Viajava muito para ver os familiares em Porto Alegre.
Diário - Torcedora fanática do Grêmio. Quando iniciou essa paixão?
Vó Rosa - Comecei a torcer para o Grêmio por causa de um genro gremista, há mais de 50 anos. Eu não entendia nada de futebol, mas agora não perco um jogo do Grêmio na TV. No Estádio Olímpico, ganhei uma regata do time, com o nome de Vó Rosa, há uns seis ou sete anos. Mas ainda não assisti a um jogo no estádio. Nunca quis ir. É muito perigoso. É muita gente. Na TV, assisto a todos, mas não brigo por futebol. Gosto de olhar quietinha. Já meus netos e bisnetos gritam bastante quando assistem às partidas comigo. Daí, eu tenho que chamar a atenção deles. Quando o Grêmio faz gol, comemoro. Ah! De vez em quando, xingo o juiz.
Diário - Que jogo do Grêmio mais lhe marcou? Teve algum em especial?
Vó Rosa - O Mundial de 1983. O jogo era no Japão, então, tive que assistir de madrugada. Eu estava sozinha. Foi emocionante.
Diário - A senhora completou os 100 anos recente mente. Como foi a festa?
Vó Rosa - Na minha festa de 100 anos, tinha 210 convidados. Chegou a faltar mesa. Além do mais, uma banda da torcida organizada do Grêmio apareceu de surpresa na comemoração. Foi especial.
Familiares presentes na festa de 100 anos de Rosa
Diário - Qual é o seu segredo de longevidade?
Vó Rosa - Um bom vinhozinho. Como minha família veio da Itália, meus avós plantavam uva em um pequeno pedaço de terra onde morávamos e faziam vinho. Então, fomos criados consumindo a bebida. Outro fator importante é cuidar da alimentação. Podemos comer de tudo um pouco, mas sem exageros.
Com o filho Admar
Diário - A boa alimentação é um dos seus conselhos para uma vida saudável?
Vó Rosa - O conselho que dou é não comermos ou bebermos demais. Uma outra dica é fugir das preocupações e ser generoso com todo mundo.